Pequena burguesia critica, mas o povo pobre trabalhador torce pelo Brasil na Copa

Como de hábito, diversos setores da pequena burguesia – tanto os “coxinhas” quanto os esquerdistas – mais uma vez se mostram completamente desconectados dos anseios e desejos da maior parte da população.

O povo brasileiro, o povo pobre trabalhador, vibra com o futebol da Copa do Mundo, acompanha os jogos, torce pela Seleção e pelos seus craques. Grande parte da classe média, por outro lado, julgando-se bem-informada, torce o nariz para o torneio e para o escrete canarinho, difama seus jogadores, brada: “Pão e circo!”, “Alienação!”, “Enquanto você vê a Copa, eles te roubam!”. Na verdade, é evidente, os alienados são justamente eles mesmos: fiscais do gosto alheio, incapazes de compreender a sociedade em que vivem.

Esses falsos críticos são justamente aqueles que acusam o povo de ser o grande culpado pelos políticos eleitos (como se a democracia burguesa não fosse viciada), são os moralistas individualistas que medem as posições políticas por opiniões e atitudes pessoais – quer sejam as suas próprias, quer sejam as dos jogadores, quer sejam as das lideranças políticas. São falsos porque os grandes capituladores acríticos ao domínio da imprensa imperialista são eles mesmos. Seu desprezo pelo gosto popular nada mais é que o velho elitismo de meia-pataca, a distinção do burguês fidalgo.

É evidente que ninguém é obrigado a gostar de futebol. Porém, o envolvimento com o futebol e a participação em atividades da Copa é inescapável a todo militante político brasileiro. Trata-se de um evento de massas em que está em disputa o esporte favorito de nosso povo. Mais que isso, o Brasil é a pátria de chuteiras e o futebol é parte da caracterização de nossa própria nação – quer seja para o estrangeiro, quer seja para nós mesmos.

Se o mito nacionalista é habitualmente sinônimo de conservadorismo nos países centrais, trata-se de um fator de agregação legítimo em países oprimidos – como o Brasil – frente ao imperialismo. A seleção brasileira é formada majoritariamente por jovens egressos das camadas sociais mais pobres de nosso país. São pessoas com quem a população trabalhadora se identifica, em que encontra uma possibilidade de redenção, por meio do entrosamento de grupo e pela habilidade individual. A Fifa e as seleções europeias – por mais louváveis que sejam os talentos de seus homens – carregam consigo o peso do imperialismo, do comércio de produtos esportivos, da força do capital.

À medida em que se desenrolam os jogos do torneio, fica evidente o carinho da população com o futebol, com a Seleção e com seus talentos. Essa relação do povo trabalhador com o futebol se expressa por exemplo no caso que tomou as redes sociais na última semana, em que o fotógrafo Bruno Itan registrou a torcida de Wallace, 12 anos, morador da Vila Cruzeiro (comunidade na Zona Norte do Rio), pelo camisa 11 da seleção. O menino não vestia uma camisa oficial da Nike, mas uma camiseta amarela em que escrevera a mão o número e o nome: Coutinho. Outro trazia uma camisa com o número 10 e o nome de Neymar. A página de Bruno Itan no Facebook é um retrato do que o futebol significa para o nosso povo. A alegria das pessoas no Complexo da Penha com as vitórias da Seleção se expressa nas cores, nos sorrisos, nos gestos, no olhar atento aos telões. O fotógrafo, morador da favela, entende sua comunidade.

O mesmo não ocorre com muitas supostas lideranças políticas, que olham de cima a vibração popular, fazem muxoxo e desdenham do povo que dizem querer representar. Mesmo dentro da esquerda, são comuns os que dizem torcer contra a seleção. Em acessos de moralismo dignos de coxinhas lavajateiros, analistas políticos acusam Neymar de ser psicótico, mau-caráter, mimado, imaturo – como se a vida pessoal do jogador lhes dissesse respeito. Numa lamentável demonstração de capitulação à campanha anti-seleção promovida de modo escancarado pela imprensa golpista, dizem torcer para a Alemanha – que massacrou o Brasil em casa há quatro anos sem apresentar um futebol à altura do feito: uma verdadeira fabricação publicitária.

Alguns, talvez com vergonha de tamanho servilismo, buscam em craques negros de seleções europeias a desculpa para torcer contra o Brasil: “Mais Lukaku, menos Neymar”, dizia um bordão nas redes sociais homenageando o brilhante atacante belga Romelu Lukaku após a revelação de sua infância difícil e miserável por meio de uma carta aberta. A virtude individual de Lukaku porém não se sobrepõe ao fato de que a Bélgica é um país que sedia diversas empresas imperialistas, nem ao fato de que o grande capital internacional vem promovendo golpes de estado indiscriminadamente em países atrasados como o Brasil, de modo a tornar seus pobres ainda mais miseráveis. Lukaku, afinal, tivera uma infância pobre porque sua família era originária do Congo Belga: uma ex-colônia ainda mais oprimida que o Brasil. E a seleção desse pais africano não está na Copa.

Por mais favorito que o Brasil seja, nossa seleção será sempre um Davi frente ao Golias do imperialismo. Por mais milionários que sejam nossos jogadores, por mais favorito que seja nosso time, eles serão sempre a expressão de um povo oprimido contra os gigantes industriais. Compreender essa realidade é o mínimo que se espera da esquerda. Agir politicamente nesse contexto é obrigação de toda liderança popular. Lula entende isso, e prontificou-se a comentar os jogos e a atuação da Seleção mesmo de dentro das masmorras em que está preso injustamente. Ele sabe a importância da mobilização de massas. Talvez falando também das eleições, Lula ponderou “podemos até ter menos tempo de bola nos próximos jogos, mas precisamos acertar o gol. Aí, as vitórias virão”.