Paulo Henrique Amorim cumprirá pena por criticar “Negro que não defende o negro”

Ainda em 2008, o jornalista Paulo Henrique Amorim, em seu blog, fez uma publicação na qual criticava o jornalista da Globo, negro, Heraldo Pereira, por este ser apenas um contratado da emissora, e, nesse sentido, era um “negro de alma branca”.

Essa frase popular busca denunciar o negro que está a serviço dos interesses do branco, o negro capacho, o “negro da casa”, nos dizeres de Malcolm X, aquele que trabalha a favor do branco contra os interesses do negro. Por isso, negro de alma branca.

A crítica política de Amorim resultou em um processo de injúria racial movido por Heraldo Pereira. O processo resultou em uma condenação de Amorim a um ano e oito meses, com cumprimento da pena em regime aberto. Tudo isso em primeira instância.

Com recurso, o processo foi para o Supremo Tribunal Federal, na Primeira Turma, que, unanimemente manteve a condenação de Amorim, com base no relatório do ministro Roberto Barroso.

O STF, com a decisão, tenta se apresentar como um tribunal democrático, preocupado com o racismo brasileiro. Uma falsidade total. O STF apoiou e apoia o golpe de Estado, em primeiro lugar.

Em segundo, a decisão não tem nenhum caráter progressista, muito pelo contrário.

O crime imputado a Amorim, na verdade, é um crime de manifestação política, de expressão de um pensamento. A crítica virou crime, e se utilizaram da lei que combate o racismo para punir Amorim.

Mesmo que fossem ofensas raciais, palavrões ou qualquer outra ofensa verbal, não é progressista acionar o aparato repressor do Estado (que só cresce) para combater essas práticas.
O que preciso ser feito é uma intensa campanha de denúncia do racismo como um todo e contra o golpe de Estado, que aprofunda a cada dia a desigualdade racial no Brasil. Por outro lado, é preciso lutar por uma imprensa independente, dos negros, capaz de fazer frente aos meios comunicação da burguesia.

O racismo, que não foi o caso da posição de Amorim de maneira alguma, precisa ser combatido nas ruas, pela mobilização do povo negro organizado em torno de suas reivindicações mais sentidas, como, por exemplo, o direito à autodefesa e a dissolução da PM.

Acionar os órgãos de repressão e o Poder Judiciário (inimigos históricos do povo negro) é o caminho para reforçar o sistema de repressão como um todo, além de inibir o crescimento e desenvolvimento das organizações dos negros e sua luta.