A mortalidade da alma: Zeina Latif e a defesa do governo de Michel Temer

Poucos a conhecem no mundo real, mas, no mundo virtual da burguesia financista, Zeina Latif é uma grande economista. Mas não por ser uma grande economista foi contratada pelo Estadão para escrever artigos em defesa do governo de Michel Temer. O diário a contratou para defender ideias indefensáveis: aquelas ideias que o próprio jornal e seus anunciantes defendem.

Em matéria publicada hoje, 2.8.2018, “Brasil indomável?”, Latif não esconde o que pensa: “o ritmo (dos avanços institucionais) decepciona e houve grande retrocesso com Dilma. Mas estamos retomando o caminho, com importante contribuição do governo Temer.” E, em seguida: “O governo vem fortalecendo o regime fiscal… Tivemos a lei das estatais, a regra do teto e mudanças no relacionamento com entes subnacionais. Isso em um contexto de instituições de controle, como o TCU, mais atuantes. O atual governo contribuiu também para o amadurecimento do debate econômico, ao dar transparência sobre a grave situação fiscal e a urgência da reforma da Previdência.”

Parece, contudo, que Latif escreve o que pensa e não o que a mandam escrever, como é o caso da maioria dos jornalistas da imprensa burguesa. Mas não é por isso que ela deixa de ser um instrumento dessa mesma imprensa.

Latif é uma simples funcionária das ideias do mercado. Nada do que diz tem valor ou relevância para aqueles que padecem da falta de comida, da humilhação da falta de emprego, da desesperança de uma velhice desamparada.

Ela pensa em um país como se esse país fosse uma grande empresa. Ela pensa que a função da economia se restringe a equilibrar contas, poupar dinheiro e pagar dívidas. Com que propósito? Atrair investimentos externos que supostamente abarrotariam os cofres do governo.

Imaginemos uma situação. Imaginemos a economia de um país como a economia de um lar. Uma família tem dívidas e economiza para pagá-las. No entanto, uma das crianças dessa família fica doente e precisa de tratamento urgente. Os pais se negariam a tratar dela para continuar a economizar? É claro que não. A menos que fossem desumanos. E essa é a política desumana do governo de Temer.

Mas, dirão economistas como Latif, é preciso poupar hoje, pensando no futuro de nossas crianças. Que futuro? Com o assalto à previdência?

Latif fala da urgência da reforma da Previdência. Ora, o sistema previdenciário é como um banco, no qual o trabalhador depositou dinheiro durante anos. Uma reforma previdenciária não significa outra coisa que dar calote nesse trabalhador; deixar de devolver a ele o dinheiro depositado por ele no fundo previdenciário.

A reforma da Previdência seria essencial para garantir a sobrevivência dela, dizem os economistas burgueses. Mentira. A reforma da Previdência é essencial para que os bancos tomem conta do sistema e é um passo sem volta para a privatização desse mesmo sistema.

Mas, levemos nosso raciocínio para um outro caminho. Suponhamos que Latif e outros economistas burgueses estejam corretos e a política do governo de Temer — o qual assumiu o poder por meio de um golpe de Estado como Pinochet, diga-se de passagem — venha realmente a promover uma “retomada do crescimento”, como já fora prometido e até agora não se concretizou.

Então caberia a nós perguntar: Que crescimento?

O resultado das políticas econômicas neoliberais são sempre os mesmos: acumulação da riqueza do país nas mãos de poucos; milhões de pessoas vivendo na penúria; eleições controladas; parcialidade total da grande imprensa e do sistema judiciário; restrições às liberdades individuais, em função da implementação de políticas impopulares; aumento desmedido do poder dos bancos; controle do país por forças estrangeiras. Em suma: tirania!

E sobre os economistas que advogam essas teses, vale dar um recado. Aqueles que colocam suas ideias a serviço de um falso ideal acabarão, cedo ou tarde, por afogar-se na realidade quando a realidade vier à tona. Ou quando forem demitidos devido à miséria que eles próprios ajudaram a construir… com suas ideias.