Seleção mercenária? Mais um ataque contra o futebol brasileiro

Bastou a notícia de que a CBF fechou acordo para pagar R$ 40 milhões de “bicho” para os jogadores da Seleção Brasileira caso sejam campeões mundiais para que a esquerda pequeno-burguesa e a direita coxinha se unificassem novamente para atacar o futebol brasileiro.

Para quem não conhece, o chamado “bicho” é o tradicional pagamento extra oferecido aos jogadores, uma espécie de prêmio, em caso de vitória. É algo tão tradicional e comum no futebol que acontece desde os times da quarta divisão até os grandes clubes e na própria Seleção. Logicamente que, como o futebol é um enorme empreendimento capitalista, o valor oferecido em uma Copa do Mundo é enorme, como os 40 milhões para a Seleção.

Aqueles que se dedicam a desmoralizar o futebol brasileiro, e que portanto não sabem nada de futebol, aproveitaram para atacar a Seleção a chamando de “mercenária”. Qual o motivo para isso? Nenhum.

Em primeiro lugar é preciso explicar o óbvio: o futebol é um esporte profissional e portanto os jogadores ganham salários e outros benefícios. Em segundo lugar, por ser o esporte mais popular do mundo, o futebol movimento bilhões de dólares e é controlado pelos grandes monopólios capitalistas que naturalmente, pelo seu poder econômico, não irão abrir mão desse mercado. Os grandes salários de uma pequena parte dos jogadores é o resultado óbvio dessa situação.

O mesmo acontece com outros setores culturais que movimentam tanto dinheiro, como por exemplo, o cinema ou o mercado fonográfico. Milhões e milhões de dólares estão envolvidos em cada nova produção, em cada artista que é promovido por esse mercado.

O capitalismo é fundamentalmente um sistema desigual, muita desigual. É claro que é necessário mostrar criticamente que, enquanto a maioria dos jogadores profissionais ganham baixos salários nos milhares de clubes pequenos espalhados pelo mundo, um grupo seleto de profissionais recebem altíssimos salários. Da mesma maneira é passível de crítica que um artistas de rock ingleses ou norte-americanos recebam milhões por shows e discos enquanto a esmagadora maioria dos artistas sobrevivem com muito dificuldade do seu trabalho artístico.

A crítica, no entanto, não deve extrapolar a denúncia do funcionamento do capitalismo por si só. Essa denúncia não implica em rejeitar por completo tais manifestações culturais. Se fosse assim, tudo no capitalismo estaria passível a ser rejeitado sumariamente, já que tudo – sem nenhuma exceção – está, em última instância, subordinado a esse funcionamento desigual.

Dizer que os jogadores brasileiros são mercenários por receberam uma premiação, e que portanto a Seleção brasileira não merece a torcida do povo, ou mesmo que “não representa o povo”, como muitos dizem, é como impugnar os Rolling Stones por que seus integrantes são milionários ou rejeitar o cinema porque os diretores e atores recebem milhões de salários.

Os que criticam a Seleção brasileira e os jogadores de futebol como “mercenários” não têm o mesmo rigor crítico em relação a outros casos. Mas não é difícil de explicar essa diferença de tratamento.

Os jogadores brasileiros não são europeus ou norte-americanos e a maioria são negros, portanto, pode ser desprezados com muito mais facilidade. Para a direita reacionária e capitalista, negros e pobres não têm o direito de quererem ser ricos, deixe tudo isso para quem já manda no mundo, pensam eles.