Para que provas? Mercado quer Lula preso, essa é a sentença dos capitalistas

Por meio do site Infomoney, os oráculos do mercado mandaram um aviso às autoridades brasileiras: o núcleo duro do golpe – o grande capital internacional – quer ver Lula não apenas longe das eleições, mas encarcerado e impedido de atuar politicamente.

Na última semana, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) pautou para a reunião de 26 de junho da Segunda Turma da Côrte o julgamento de um pedido de suspensão de prisão encaminhado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso em Curitiba há mais de dois meses. Abre-se assim uma saída institucional viável para por fim ao aprisionamento ilegal da maior liderança política do país. Segundo o site Infomoney, “julgamento de recurso pelo colegiado acende sinal de alerta no mercado, que teme a evolução do risco político à agenda ortodoxa de reformas econômicas”.

O imperialismo expressa sua vontade e “opinião” de diversas formas. A mais comum, e inequívoca, é a divulgação dos relatórios das análises internas feitas pelos bancos e grupos de investimentos. Estes documentos são lidos por jornais especializados e traduzidos em artigos que “dão o recado” aos agentes políticos. É o caso do artigo do Infomoney, que menciona o relatório de análise de uma certa XP Investimentos, criada por Guilherme Benchimol e Marcelo Maisonnave em 2001 e parcialmente comprada pelo grupo Itaú há pouco mais de um ano por R$ 6,3 bilhões. Benchimol é cotado mesmo para a sucessão de Roberto Setubal na direção do principal banco do país, e um dos principais promotores do golpe de estado em curso, fazendo a ponte entre o mercado financeiro nacional e o global.

O alerta dos golpistas aos juristas portanto é claro: o objetivo do golpe está longe de ser cumprido. Há uma agenda de aprofundamento dos ataques à população brasileira – candidamente chamados no artigo de “reformas econômicas ortodoxas”, que só seria possíveis com a vitória de um candidato de direita (chamado pelos golpista de “candidato de centro”). Há todo um colchão de bem-estar social ainda a ser desgastado pela voracidade da crise imperialista global: fim de toda a saúde e educação públicas, fim das garantias sociais mínimas. Não há limites para o cenário de terra arrasada que se pretende impor de modo a sugar todo o orçamento federal para o pagamento de juros a banqueiros.

A luta de classes fica igualmente explicitada: Lula não apenas deve ser impedido de concorrer à presidência. Para o mercado, Lula deve continuar preso de modo a não usar de sua capacidade de articulação e liderança na composição das candidaturas de todos os níveis às eleições de outubro. Isso porque Lula é o principal agente capaz de fazer valer a pressão da classe trabalhadora nas arenas da política institucional. Mas o imperialismo não vem conduzindo o golpe ao acaso, e evidentemente Dilma não foi derrubada para que um verdadeiro representante dos trabalhadores fosse alçado ao poder pela via eleitoral dois anos depois.

Ao contrário, para os golpistas, a eleição é vista como a legitimação do golpe, como um processo capaz de tornar aceitáveis por meio de um processo “democrático” os ataques à classe trabalhadora que se pretende aprofundar. Ocorre que é cada vez mais claro para a esquerda brasileira que eleição sem Lula é fraude, e que um pleito em que o principal candidato está preso ilegalmente não será bem-sucedido em legitimar a continuidade do golpe.

Em todo caso, o Infomoney trata de acalmar seus leitores com a sentença dos golpistas – à revelia do mérito do processo, se Lula é ou não culpado no caso: “uma eventual concessão da soltura não é o cenário mais provável”. Os capitalistas agradecem o afago.