Não se deve lutar pelo aumento do aparato repressivo do Estado

Muitas vezes, na luta política, na tentativa de se combater uma determinada postura conservadora, a tentação da esquerda pequeno-burguesa é apelar para o aparato repressivo do regime, criar novas penas, novos crimes, etc.

É preciso, antes, informar alguns dados sobre o efeito da repressão do regime burguês contra o negro. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou no ano passado um documento chamado Atlas da Violência de 2017, que trás vários dados de 2005 até 2015 sobre a violência no Brasil.

Em linhas gerais, nesses 10 anos foram mortos 318 mil jovens, sendo que tem havido um crescimento de mortes de tempos em tempos. Desse total, pelo menos 71% são jovens negros, o que resulta em um número de 225 mil negros mortos em 10 anos. 

Em primeiro lugar é preciso dizer que essa quantidade enorme de negros assassinados é resultado da política da direita, que nunca se contentou com o fim da escravidão e com as liberdades democráticas do negro, e sempre lutou para aumentar a repressão do estado.

A repressão da burguesia tem grande participação nessas mortes. Se não é autora direta (com cerca de 3 mil mortes de negros ao ano pelas mãos da PM) é indireta, com participação em praticamente todo ato delituoso que resulta em morte, especialmente os ligados ao tráfico de drogas. Tráfico que tem como sócio os órgãos de repressão.

A direita é a defensora primeira de que os órgãos de repressão precisam ser reforçados, e que as penas todas sejam aumentadas, além da criação de novos crimes. É a mesma direita que defende prisão perpétua e a pena de morte, além da redução da maioridade penal. É um típico programa que só pode resultar no aumento da violência, como o comprova os dados apresentados pelo IPEA.

Mesmo antes do golpe de Estado, a direita que hoje tomou de assalto o executivo nacional, já estava no comando das forças de repressão. Da Polícia Militar à Polícia Federal, mesmo na gestão do PT, a direita ditava seu funcionamento. Daí também que o golpe tenha contado com a colaboração da PF, que, na verdade, é praticamente um órgão de repressão dos EUA dentro do Brasil. 

Dessa forma, essas 225 mil vidas de negros exterminadas pela violência corresponde diretamente à política da direita. Por isso também que os números estão subindo e devem subir ainda mais com o regime golpista, defensor da repressão e morte à população negra.

Tomando por base esses dados e o fato de que existem 700 mil pessoas presas, é fácil concluir que o fim do racismo não está no aumento de penas, ou na criação de novos crimes. O regime penal não foi construído para defender o negro, muito pelo contrário.

O combate ao racismo se dá por meio das organizações próprias do movimento negro, por meio de sua luta, consequente, nas ruas, de forma independente. Somente com o negro ganhando peso social e político na sociedade é que se combate o racismo. 

Bem pensado e medido, este é o momento que o movimento negro precisa se organizar para intensificar a luta contra o golpe de Estado, contra a direita golpista e suas instituições, que aprofundam o regime repressivo contra o povo. 

Para os trabalhadores no geral, mas para o negro em especial, é uma questão de vida ou morte lutar contra o golpe, e, nesse sentido, o próximo passo dessa luta está em Porto Alegre, no dia 24, quando o regime dos golpistas, dos torturadores, dos defensores do sistema penal irão tentar condenar e prender uma das maiores lideranças do povo brasileiro dos últimos temos, Luiz Inácio Lula da Silva.

Fica aqui o chamado a todas as organizações do movimento negro a comparecerem em massa nesse dia, e impor uma dura derrota ao regime golpista.