Coletivo de cinema negro no ES

Assim como a música, dança e diversas expressões artísticas, o cinema é uma importante ferramenta de entretenimento e propagação ideológica, sendo seus expostos difundidos em diferentes espaços por todo o País. Além disso, o público busca nas mais diversas categorias, afinidade e identificação, o que explica os variados gostos e tipos de filmes e/ou documentários.

É importante olhar com atenção, porém, os fatos. O Brasil é composto por diversas raças e etnias, sendo a população negra majoritária. Mas, segundo dados divulgados recentemente no jornal El País, dos 142 longas-metragens produzidos no país, mais da metade foram produzidos por homens brancos. Dos 111 filmes dirigidos por homens, 3 deles foram por negros ou pardos. Mulheres brancas produziram 28 filmes. Nenhum dos escolhidos foi roteirizado por uma mulher negra.

Tais levantamentos feitos pela Agência Nacional de Cinema refletem um cenário assustador, mas que, na verdade, é um reflexo do recorte brutal do sistema capitalista. Homens brancos concentram o monopólio, propagam ideologias burguesas e reduzem violentamente a atuação de negros e mulheres nos espaços culturais.

Logo surge uma contradição. Como a parcela excluída e menosprezada da população irá se identificar com um sistema e ideologias que, a cada instante, os excluem da comunicação, arte, etc.?

Assim cria-se, em novembro de 2017, o Damballa, primeiro coletivo de cinema negro no Espírito Santo, fundado por Alexander Buck, Adriano Monteiro, Dell Freire e Daiana Rocha. O coletivo visa à ampliação dos espaços de produção para cineastas negros, ampliação do incentivo às obras por eles produzidas, bem como extrapolar os limites da criatividade que, muitas vezes, tentam enquadrar os cineastas negros.

O coletivo também tem por objetivo a confecção de curtas-metragens , de forma independente, com discurso e representatividade racial dentro do Cinema de Gênero. Sua primeira atuação pública será um encontro sobre ações afirmativas no audiovisual Capixaba e ocorrerá no dia 28 de fevereiro, no Museu Capixaba do Negro, no centro de Vitória. Os diretores do coletivo apresentaram suas obras de direção, além de uma roda de conversa, posterior a atividade inicial para falar sobre o tema.

A ideia de criação e ampliação do coletivo é importante. Todavia não deve ser uma luta isolada. Deve-se lutar não apenas por essa causa, mas por todo sistema de marginalização e exclusão. Para que os negros, assim como as mulheres, os índios, a população periférica e todos aqueles que se encontram a margem consigam ocupar os amplos espaços e meios de divulgação é preciso de uma ampla luta para derrubada nos monopólios e veículos de comunicação e propagação ideológica. Lutar contra o sistema capitalista e suas desigualdades, já! Somente assim será possível que a população brasileira, num todo, se sinta representada, longe da contaminação da ideologia burguesa.