Vidas Secas faz 80 anos, se depender da direita golpista Brasil será para sempre como o retratado no livro

   O 80.º aniversário da publicação do romance Vidas Secas reitera a importância da magnífica exposição do escritor Graciliano Ramos (1892–1953), demonstrando que a reprodução das pretéritas condições dos retirantes nordestinos está intimamente ligada aos interesses da direita golpista. De caráter regionalista e pertencente à segunda fase modernista, a obra é considerada uma das mais belas e aclamadas criações da época, retratando de maneira ímpar a imperativa condição de carestia do povo nordestino. Após oito décadas, percebemos que a estrutura social protagonizada por Fabiano e sua família mudou de forma, mas não seu conteúdo.

   Além de artista do segundo movimento modernista, Graciliano Ramos ocupava-se em denunciar as mazelas do povo brasileiro, reportando com um estilo seco – que lhe era peculiar, a situação de miséria do sertão nordestino. A atualidade de sua obra é atestada no cotidiano de grande parte do povo nordestino, que por mérito dos governos burgueses, sofrem até hoje com a escassez das chuvas. Não esqueçamos da baixa escolarização da população, a falta de políticas públicas preventivas quanto à gravidez precoce, a mediocridade dos programas sociais; enfim – poderíamos elencar uma série de flagelos impostos à população, que até os dias de hoje é colocada à margem. No compasso do tempo, ainda encontramos traços vívidos de caricaturas reputadas, cujo significado histórico não ousa se alterar. Ainda existem muitos Fabianos e Sinhás Vitória nos rincões do Sertão, onde o simulacro empreendido pelos algozes contra sua plebe satisfaz os mesmos coronéis de outrora. Os anseios do povo não padecem de imobilidade, mas são sufocados pelos alicerces que o prendem.

   Não temos dúvida quanto aos interesses dos velhos coronéis e seus epígonos representados pela direita golpista, que através de uma expugnação sem igual no Estado brasileiro, conduz a nação à um retrocesso colossal. Para os golpistas, Vidas Secas não apenas seria uma retratação fidedigna do passado que se aparenta no presente, mas, deveras, fator sine qua non de sua condição absoluta.