Tiro pela culatra: visita de Trump ao Reino Unido é marcada por protestos e enfraquece governo conservador

O presidente norte-americano Donald Trump conclui neste domingo uma viagem ao Reino Unido que os editores do jornal inglês The Guardian batizaram de “uma visita dos infernos”. Desde que chegou, na quinta (12), Trump atacou a primeira-ministra britânica conservadora Theresa May, retratou-se no dia seguinte, criou factoides como uma série de quebras de protocolo encaradas como desrespeito à rainha Elizabeth II, fez propaganda de seu resort de golfe na Escócia.

Além disso, Trump deparou-se com uma onda de manifestações hostis por onde passou – até mesmo às portas de seu resort –, incluindo protestos e comícios que reuniram verdadeiras multidões em Londres e em Edimburgo.

Na sexta, o presidente declarara ao tablóide The Sun que a proximidade de Londres com a União Europeia “estragou o Brexit” – a saída da Grã-Bretanha do mercado comum europeu. Para Trump “estaríamos negociando com a União Europeia ao invés de negociar com o Reino Unido, então isso talvez mate o nosso acordo” [de livre-comércio com os Estados Unidos]. No dia seguinte, ao encontrar-se com Theresa May, ele voltaria atrás e diria que desejava alcançar um “fantástico” acordo comercial com Londres.

Na capital inglesa, o líder do Partido Trabalhista inglês, Jeremy Corbyn falou para 250 mil manifestantes – entre eles os militantes do Comitê contra o Golpe de Londres: “estamos reiterando nosso direito à democracia, nosso direito à liberdade de opinião e nosso direito a desejar um mundo que não seja dividido pela misoginia, racismo e ódio”. Para o líder popular, o governo inglês não deveria ter “estendido o tapete vermelho” para Trump num momento em que ele põe em risco milhões de vidas.

Na Escócia, um ativista do grupo Greenpeace sobrevoou o resort Trump Turnberry com uma faixa em que se lia “Trump: well below par #resist” (“Trump: abaixo da média #resistir” – na verdade, uma expressão do mercado financeiro relativa a ações em baixa).

A mobilização popular provocada pela visita aumenta a radicalização política na Inglaterra, encurralando o governo conservador de Theresa May que, atacado pelo próprio Trump, acabou por sair enfraquecido do episódio. Quando convidaram o presidente para uma visita oficial, os membros do Partido Conservador esperavam o apoio norte-americano à política externa anti-europeia da Inglaterra. Mas Trump esperava nada menos que a integração comercial completa da Grã-Bretanha aos Estados Unidos. A hostilidade de Trump à Europa e à Inglaterra explicita uma cisão dentro do próprio núcleo imperialista, provocada por sua incapacidade de articulação com as burguesias locais e a classe trabalhadora.