Sexo, propina e video-tape: como a burguesia ganha uma eleição

Os jornais New York Times e Guardian revelaram dias atrás que a empresa britânica Cambridge Analytica foi capaz de acessar dados de mais de 50 milhões de usuários norte-americanos do Facebook sem que eles lhe dessem permissão. Os dados coletados serviram para a criação de perfis psicológicos para a categorização de eleitores com a finalidade de montar operações para exercer influência sobre seus votos em favor do então candidato presidencial Donald Trump. Segundo o próprio Diretor Executivo da empresa, Alexander Nix, empresas fantasmas na internet eram utilizadas nestas operações secretas em todo o mundo.

A empresa também montava armadilhas para candidatos opositores de seus contratantes, como mandar prostitutas às suas casas ou oferecer-lhes suborno e então divulgar o flagrante forjado. Um outro executivo revelou que as informações obtidas eram colocadas de maneira discreta na internet, aguardava-se a ampliação da divulgação e de vez em quando eram impulsionadas. Cambridge Analytica, além de atuar na campanha de Trump, também participou da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Embora ignorada pela maioria das pessoas a utilização de subterfúgios para influir no comportamento das massas é fato cujo histórico perde-se no tempo. Nos Estados Unidos os anos vinte marcam o início do modo como operam atualmente os detentores do poder que levam populações inteiras a agirem segundo os desejos da classe dominante acreditando estarem agindo no seu próprio interesse. Foi nessa época que ganhou notoriedade um teórico da propaganda chamado Edward Bernays que após sua morte ficou conhecido como “O Pai das Relações Públicas”. Ele descrevia as massas como “irracionais e sujeitas ao instinto de rebanho”. Ele destacou que peritos poderiam utilizar psicologia das massas e psicanálise para exercer controle sobre elas de maneira desejável. Entre as campanhas que Bernays idealizou estão a campanha para promover o fumo entre as mulheres e seu trabalho para United Fruit para promover a derrubada do governo de Jacobo Arbénz na Guatemala.

Ao contrário do que a maioria acredita, as chamadas redes sociais não foram fruto da genialidade de algum adolescente trabalhando em seu quarto, mas foram sim concebidas e financiadas pelos serviços de inteligência norte-americanos como ferramentas poderosas de manipulação e de controle e engenharia social. A história da Cambridge Analytica é bizarra e tendo em vista o grau de poder necessário para desenvolver as suas atividades o que veio a público certamente é só a ponta do iceberg e o Facebook não é apenas uma vítima. Vale lembrar que a empresa já tinha acertado atuar nas próximas eleições no Brasil. Também vale lembrar que em 2013, durante a presidência da Ministra Cármem Lúcia, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ia entregar os dados de 141 milhões de eleitores à empresa SERASA, o que não ocorreu em razão de denúncias na imprensa.