Quem será o Fujimori brasileiro?

No dia 5 de abril de 1992, o então presidente do Peru, Alberto Fujimori, dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Tribunal Constitucional, o Ministério Público e outros órgãos autônomos, ações que foram tratadas como um ‘autogolpe’ e, segundo ele mesmo, tinha o propósito de preservar o “Estado de direito e a democracia no Peru”.

Nasceu o Fujimorismo.

Que lições podemos tirar daquele momento tão particular da história do povo peruano?

É importante a assinalar que o Peru dos anos 1990, fecha um ciclo caótico em termos econômicos e social, com o governo de Alan García. Contração econômica, inflação nas alturas, consumo em baixa, somado à guerrilha do Sendero Luminoso que, naquele momento havia avançado muito. No ano de 1989, já se contabilizava 3.149 ataques, com 2.878 mortos, o que colocava o país sob uma real ameaça para a ordem constitucional.

Esse contexto, levou a que as eleições presidenciais e parlamentares de 1990 resultassem numa surpresa. O candidato da burguesia era Mario Vargas Llosa, pela Frente Democrática (FREDEMO). Escritor de prestígio, tinha apoio de toda a classe dirigente peruana (políticos, grupos econômicos, imprensa, Igreja etc.).

No entanto, considerando o desgastado sistema partidário do país, surgiu um pequeno partido, o “Cambio 90”, que apresentou a candidatura de um universitário de origem japonesa, Alberto Fujimori. Completamente desconhecido até aquele momento, sustentava uma imagem de homem próximo ao povo, com a seguinte mensagem: “honestidade, tecnologia e trabalho”.

Surpreendentemente, Fujimori ganha as eleições, sem apoio de partidos já estruturados e com história, sem maioria no Parlamento e sem um plano de governo. Não se sabe ao certo se foi realmente puro improviso o que se seguiu, mas o novo presidente reviu algumas das promessas eleitorais e assumiu o programa econômico radical proposto pelo adversário, Vargas Llosa, traindo o apoio da esquerda e daqueles de centro-esquerda. Pior, ao assumir o poder, sob forte influência de governos estrangeiros, Fujimori, cerca-se de conselheiros peruanos e estrangeiros, além de aproximar-se de organismos internacionais, e levará a termo as reformas económicas neoliberais da FREDEMO.

Como não tinha maioria no parlamento e distanciava-se dos partidos tradicionais, e mesmo dos seus aliados de primeira hora, Fujimori forma uma aliança com a alta cúpula das Forças Armadas e cerca-se de uma equipe de profissionais de fora da burocracia tradicional, que são apresentados como independentes.

Esta coalizão de poderes foi colocada em prática sob o argumento de executar um projeto político de longo prazo, a fim de assegurar o desenvolvimento, a modernização e a pacificação do país. Esse é o Fujimorismo: um regime cívico-militar que ignora, e até combate, o Estado de Direito e as instituições políticas vigentes.

Não é isso, no fundo, que nos propõem hoje muitos atores que participaram do golpe e estado de 2016? É o relativismo do Estado de Direito, a demonização das instituições democráticas e do sistema político, e a promessa de atacar o caos em que mergulhou o país.

Não parece diferente também a aliança com as Forças Armadas e a substituição da burocracia por consultores da iniciativa privada, o que vem ocorrendo em nível Estadual também.

Quem assumirá, entre nós, o papel que foi de Alberto Fujimori?

Se não nos mobilizarmos, se não fortalecermos os comitês de luta contra o golpe, se não fortalecermos a militância, candidatos não faltarão.