Qual era a dúvida? Requião falou muito, mas na hora de votar contra a intervenção, se absteve

O senador do Paraná Roberto Requião é, frequentemente, apontado por vários setores da esquerda como o melhor nome para substituir Lula caso este não possa se candidatar. Por mais que Requião seja do PMDB – o partido que sustenta o governo golpista no Senado e na Câmara -, seu discurso supostamente nacionalista acaba, de fato, empolgando algumas pessoas. No entanto, a luta política não é feita somente de discursos – a mais calorosa defesa de Lula ou das riquezas nacionais na tribuna de nada vale sem um combate real ao golpe de Estado.

Na noite do dia 20, o Senado Federal votou o decreto que autoriza as Forças Armadas a controlar diretamente a Segurança Pública do Rio de Janeiro – o que significa, na verdade, que o Governo como um todo está sob permanente chantagem dos militares. Essa votação, que marcou um episódio gravíssimo da situação política em que o Brasil vive, deveria ser utilizada por todos os setores minimamente democráticos – isto é, que são contra o golpe, contra a prisão de Lula e contra a interferência do imperialismo na América Latina – como um momento de grande agitação política em torno do problema do golpe militar. Requião, no entanto, sequer apareceu na sessão que discutiu o decreto, abstendo seu voto.

A abstenção de Requião não pode ser entendida como um “acidente” ou como uma ocorrência menor. O abandono da luta contra o golpe militar em um de seus episódios mais decisivos é uma prova clara de que Requião não levará a luta contra o golpe até as últimas consequências. As contradições que permitem que Requião, embora aliado a setores burgueses, leve uma defesa aparente de pautas progressistas não permitem, contudo, que ele parta para um enfrentamento direto e incisivo contra os monopólios internacionais.

Diante dessa capitulação vergonhosa do senador Roberto Requião, fica claro mais uma vez que a classe trabalhadora e todos os demais setores oprimidos pelo golpe não devem depositar suas esperanças nos discursos bonitos ou apaixonados dos carreiristas do Congresso Nacional, mas sim se organizar em milhares de comitês de luta contra o golpe, colocando em movimento a classe operária de conjunto.