Pré-candidato do PSOL está à direita de Lula

O PSOL lançou recentemente como um pré-candidato à presidência da República para as possíveis eleições deste ano o economista Nildo Ouriques. Como a maioria dos militantes desse partido, o acadêmico tem um discurso de esquerda crítico ao petismo e a Lula, mas na verdade um discurso de fachada sob o qual está uma posição direitista e pequeno-burguesa.

Ouriques, aclamado por setores “radicais” da esquerda acadêmica, afirmou no final do ano passado sua postura direitista na prática. Em entrevista em novembro ao Jornal GGN, ele se mostrou pouco diferente das alas mais direitistas do PSOL, como a de Luciana Genro. Para ele, não existe avanço da direita no Brasil e no mundo, mas pelo contrário, um avanço da esquerda! Ele se justifica dizendo que a direita sempre esteve no poder e atualmente não tem o menor apoio popular e que a esquerda foi o destaque nas últimas eleições nos EUA, França e Inglaterra.

Mas quem disse que a direita precisa de apoio popular para impor suas medidas (antipopulares)? Temer não tem apoio nenhum da população e seu governo está devastando as riquezas do Brasil e os direitos dos trabalhadores e do povo em geral. Macri, na Argentina, vive a mesma situação. O avanço da direita não consiste em ter o apoio do povo contra a esquerda, mas em esmagar as conquistas do povo fazendo uso do Estado para beneficiar a burguesia (e, especialmente, o imperialismo). E, para destruir os direitos da população, ela precisa ao mesmo tempo destruir seus rivais – os que se opõem a essa política ou os que podem significar um obstáculo para seus objetivos –, que são exatamente as forças de esquerda.

Contraditoriamente, o nosso “radical” acadêmico considera Lula e o PT como algo negativo para o avanço da esquerda, enquanto acredita que os “sucessos” eleitorais dos reformistas Bernie Sanders, Jean-Luc Mélenchon e Jeremy Corbyn representariam, esses sim, um avanço.

O “X” da questão está exatamente nesse pensamento pequeno-burguês. Talvez as propostas de Sanders fossem mais progressistas do que as de Lula, mas qual a base eleitoral do ex-candidato à presidência dos EUA? Qual a sua representação perante a classe operária? O que levaria Sanders a implementar um programa de esquerda nos EUA? Primeiro, mesmo que fosse eleito, Sanders não conseguiria (ainda que quisesse) executar suas reformas moderadas porque estaria à frente da maior potência imperialista e onde o sistema é uma ditadura estritamente controlada pela grande burguesia. Segundo, porque ele não teria a mobilização popular necessária para brigar contra os interesses capitalistas, o que é um atestado de óbito para qualquer um que ouse brincar de fazer revolução. O mesmo vale para Mélenchon.

Corbyn é o caso mais parecido com o de Lula. Líder do maior partido de massas do Reino Unido, representante da classe operária, o trabalhista tem uma base de massas que o obriga a tomar posturas mais radicais, como a defesa da estatização de todas as privatizações em seu país. Corbyn tem capacidade de mobilização da maior força política que pode desestabilizar o sistema capitalista, os operários. É a mesma base de Lula no Brasil.

O que representaria um possível avanço da esquerda seria a luta contra a prisão de Lula – a qual Ouriques debocha, declarando ser somente uma tática para fortalecer o lulismo e o levar novamente à presidência da República para repetir os mesmos 13 anos de “corrupção moral, política, econômica e social do governo lulista”. E na conjuntura atual, é a única possibilidade de avanço na organização dos trabalhadores.

Aqueles que, como Ouriques, veem nessa mobilização um controle e direcionamento do PT sobre a massa trabalhadora, pensam que esta seja composta de carneirinhos que podem ser manipulados e enganados facilmente. Não acreditam no potencial explosivo dos trabalhadores, não acreditam no desenvolvimento de sua consciência de classe aprendendo com a própria experiência prática.

A luta contra a direita, que tomou o poder através de um golpe de Estado imperialista e que atualmente se corporifica na defesa de Lula, tem o potencial – que está sendo demonstrado – de mobilizar amplamente os trabalhadores em defesa de seus interesses, não só em defesa do PT. Ao contrário do que podem pensar intelectuais pequeno-burgueses, a organização dos trabalhadores e o desenvolvimento de sua consciência não se dá apenas lendo as obras do marxismo, mas – e principalmente – na luta política prática, em um cenário de profunda crise social que gera revolta no seio da classe operária. E a criminosa perseguição política sobre Lula causa uma revolta tremenda entre os trabalhadores, que o veem como seu representante. Até mesmo as pesquisas manipuladas da burguesia demonstram isso.

Ouriques acredita que o único resultado possível para uma eventual candidatura e vitória eleitoral de Lula seja uma repetição dos governos de conciliação petistas. O nosso estudioso, entretanto, não percebe que isso é simplesmente impossível devido ao cenário de caos social, político e econômico em que foi jogado o regime político com a crise estrutural do capitalismo. A vitória de Lula nas eleições só será possível com uma gigantesca mobilização popular que começa no repúdio a sua prisão e essa mobilização popular por si só desenvolve a consciência de classe dos trabalhadores, independentemente da política defendida por Lula. E mais, em caso de avanço popular que seja decisivo na eventual eleição do petista, a pressão dos trabalhadores pode ser tão grande que force medidas mais radicais da liderança. Isso já vimos em várias ocasiões durante a história do movimento operário, e mesmo no cenário atual é possível enxergar esboços disso. A radicalização dos trabalhadores força a radicalização das lideranças, que, se não atenderem às suas reivindicações, poderão facilmente ser ultrapassadas pelo próprio movimento dos trabalhadores em um impulso de organização política. E nesse sentido, percebendo a emergência, aí sim, do avanço dos trabalhadores, é de fundamental importância um partido de vanguarda, operário e revolucionário para orientar a luta em um novo período de mobilizações, que podem se radicalizar cada vez mais.

O “radical” Ouriques está à direita de Lula por não apoiar na prática a mobilização dos trabalhadores. Lula, por outro lado, inevitavelmente tem apoiado essa mobilização, independentemente de suas intenções e de sua postura conciliadora. Não adianta se dizer revolucionário e não entender a dinâmica da luta de classes, ainda mais em um cenário de radicalização e de crise do regime político. A consciência dos trabalhadores se desenvolve por diversas formas e a luta contra a prisão de Lula, contra o golpe de Estado e contra a direita é a luta que está sendo abraçada pelos trabalhadores e é o instrumento de sua mobilização e possível radicalização.