Quem acompanhou a primeira noite de desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, na Sapucaí, não pode deixar de reparar como ficaram desconcertados os comentaristas que faziam a transmissão pelo camarote da Rede Globo. O constrangimento se deu por conta do enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?” da Paraíso do Tuiuti, que questionou o fim da escravidão, a reforma trabalhista, o desemprego, o neoliberalismo e a perda de direitos pós golpe de estado no Brasil. Um satisfatório grito entalado na garganta de milhões de brasileiros.

Encabeçada pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, a agremiação não poupou críticas ao atual contexto sócio-político e econômico do País. Sua passagem pela avenida foi mais uma denúncia do golpe ao mundo.
Um dos pontos quentes da festa foi o “Presidente Vampiro”, que fazia uma evidente alusão a figura do sinistro Michel Temer. A produção da fantasia tinha em destaque notas de dólares saindo do paletó e da faixa presidencial do personagem, que foi representado pelo professor de história Léo Morais no último carro da escola, o “Navio Neo Tumbeiro”.


Mas o destaque da noite ficou com a “Ala dos Manifestoches”, que fazia uma clara referência às manifestações a favor do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff e a massa de manobra criada pelo discurso golpista da Rede Globo. Além de panelas nas mãos dos integrantes, a fantasia padrão da ala era composta por um pato na altura da cintura e uma camisa amarela semelhante a da CBF, tudo guiado por uma grande mão que os conduzia como um titeriteiro manipula uma marionete.
Como observou o colunista Mauricio Stycer em seu blog, constrangida, Fátima Bernardes limitou-se a dizer “Os Manifestoches”, ao ver passar a ala pra lá de provocativa dos patos, sem dizer mais nada. “Manipulados”, acrescentou Milton, outro comentarista que fazia a transmissão.