Pará: líder sem-terra assassinado estava sendo ameaçado de morte há anos

O líder sem-terra Valdemir Resplandes, assassinado com três tiros na última terça-feira (09/01) em Anapu/PA, vinha sendo ameaçado de morte por latifundiários e madeireiros há alguns anos.

Valdemir era uma importante liderança na luta pela terra, numa região marcada pela grilagem de terras, latifúndios e pistolagem. A região de Anapu é palco de grandes conflitos e ficou marcada mundialmente pelo assassinato da missionária Dorothy Stang em 2005 e desde então a violência não cessou.

Apesar da violência, os órgãos do Estado nunca resolveram o problema e a sua atuação somente agravou o problema. O assassinato de Valdemir e de outros militantes da luta pela terra não foi nenhuma novidade e todos foram anunciados.

Em 2016, o sem-terra deu uma entrevista ao programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil: “Eu sou uma pessoa muito perseguida, ameaçada. Teve noite que não dormimos, porque ficava passando várias caminhonetes, íamos na polícia para registrar um boletim, mas nunca fomos atendidos.”

As denuncias de Valdemir, apesar de fundamentadas e extremamente graves, nunca resultaram numa política de proteção as vítimas ameaçadas, pelo contrário, sendo tratadas como denúncias banais pela política e pela justiça federal e do estado do Pará.

Todas as ameaças anteriores e o histórico de conflitos agrários na região, a polícia está tratando o caso como crime comum e afirmam que “ainda não há motivação definida nem autoria do crime identificada”. É o modus operandi da polícia para esconder os verdadeiros responsáveis e culpados pelos crimes, quando a própria policia é conhecida na região em atuar como pistoleiros dos latifundiários de terra e atuar como grupos de extermínio.

As famílias sem-terra estão sem nenhum apoio dos órgãos do estado, e após o golpe essa situação piorou. Executivo, legislativo e judiciário atuam de maneira coordenada para atacar as famílias em benefício dos latifundiários.

Está cada vez mais clara a necessidade de autodefesa das famílias sem-terra, pois não podem confiar nessas instituições que foram tomadas pelos golpistas, e da derrota do golpe de estado para reverter essa situação.