O “caos” chegou ao fim; mas as forças armadas continuam ocupando Natal, como em 64

Desde o dia 29 de dezembro, uma força militar composta por 2.800 homens  ocupam a cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte. O pretexto para esta verdadeira operação de guerra foi a greve – já encerrada – deflagrada pelos policiais civis do Estado, que se recusaram a continuar trabalhando em função do atraso de 3 meses no recebimento dos seus proventos.

Assim como já ocorreu em várias outras cidades do país (Rio de Janeiro, Vitória) em outros momentos recentes, a presença das Forças Armadas ocupando pontos estratégicos de importantes capitais, deixa o conjunto da sociedade em alerta sobre uma iminente intervenção militar na vida institucional do país.

O pretexto para a ocupação é a propalada  GLO (Garantia da Lei e da Ordem), instrumento que vem sendo utilizado para justificar esse verdadeiro estado de terror e ameaça dos militares contra o país. “Com pelo menos dois tanques e dois caminhões, os militares estão circulando armados nas ruas do bairro da zona leste de Natal e realizando abordagens em pedestres e veículos que passam pelo local” (Tribuna do Norte online, 10/01).

Trata-se, evidentemente, de uma operação não só de intimidação, mas com um alcance e intenções bem maiores. Está claro que as forças armadas estão em treinamento e se preparam para intervir militarmente na vida política do país.

No último período se sucederam declarações de militares de alta patente das FFAA se posicionando abertamente pela intervenção militar, sendo a mais contundente delas a palestra do General Hamilton Mourão numa Loja Maçônica, em Brasília. Mourão defendeu abertamente uma intervenção militar, caso a classe a política não resolvesse a crise das instituições nacionais.

Agora, mais recentemente, os sites oficiais do Exército estão reproduzindo matérias dos jornais da imprensa golpista, onde os porta-vozes do mercado dizem estarem eufóricos com a possibilidade de condenação e prisão do ex-presidente Lula, no julgamento que ocorrerá dia 24 de janeiro, em Porto Alegre. Ainda de acordo com o conteúdo das matérias, os indicadores econômicos estariam reagindo positivamente, animando os mercados com a possibilidade de que uma candidatura de centro-direita venha a sair vitoriosa nas eleições de 2018.

Não há dúvidas quanto às (más) intenções dos “patriotas” militares. Evitar a todo custo – inclusive com o golpe militar – a hipótese de uma candidatura de esquerda ao Planalto, encabeçada pelo ex-presidente Lula. Na verdade, o que os generais golpistas desejam é que  Lula seja banido de vez da vida pública. Daí as ameaças constantes contra a esquerda e os movimentos sociais.

Lembremos 1964. À época, os generais que se levantaram como “patriotas” e que em suas declarações diziam estarem prontos para intervir em defesa do Brasil, “contra a corrupção e contra a ameaça comunista, depuseram um governo legitimamente eleito pelo voto popular. O que se sucedeu é bem conhecido de todos os brasileiros. Uma longa noite de terror foi instalada no país, onde por durante 20 anos imperou a perseguição, as prisões arbitrárias, a censura, as cassações, os desaparecimentos, as torturas e os assassinatos, além da mais desenfreada corrupção protagonizada por aqueles que se reivindicavam como arautos da moralidade.

Portanto, o que vem sendo dito e declarado pelos oficiais das armadas deve ser claramente entendido como um sinalizador de que as FFAA estão prontas a intervir no país. As sucessivas operações de ocupação em importantes capitais do país deixam claro que estão em curso manobras e exercícios preparatórios para a deflagração de uma operação de maior envergadura; vale dizer, o golpe militar.