Mourão acusado de corrupção: quando os de cima brigam, os de baixo festejam

O Exército Brasileiro já foi apontado por muitos direitistas e pela imprensa golpista como uma instituição acima do bem e do mal, totalmente impermeável à corrupção e pronta, se for o caso, para assumir as rédeas do país em uma cruzada contra os políticos.

O problema é que as instituições não eleitas, como o Exército e o Poder Judiciário, tendem a ser ainda tão corruptas quanto as demais, especialmente pelo fato de não se submeterem ao crivo popular, ao voto, estão totalmente à mercê dos poderosos.

É por isso que o coronel da reserva Rubens Júnior, de 49 anos, disse, em matéria publicada no jornal El Pais, que “a corrupção nem sempre acontece com malas de dinheiro, ela acontece também no Diário Oficial, disfarçada de atos oficiais”.

Essa declaração foi dada em virtude da aquisição de um simulador feita pelo Exército, e que, para tanto, foi utilizado os mesmos métodos do regime burguês corrupto, levando Rubens Júnior a denunciar o vice-candidato de Bolsonaro, o general golpista Hamilton Mourão, como um corrupto.

Para tanto, o El Pais teve acesso a um dossiê de 1300 páginas de documentos conseguidos pelo portal BrasilLeaks. O simulador foi reprovado pelo menos oito vezes por técnicos do Exército, mas mesmo assim foi adquirido.

Por conta das sucessivas reprovações do simulador, que teria vencido a licitação por meio de facilidades, é que entra em campo Hamilton Mourão, para poder fazer “passar a proposta”. Nos dizeres do coronel da reserva, na matéria do El Pais, Mourão foi escalado para “destravar o andamento do projeto (…) existe uma grande maioria no Exército que trabalha bem e que é honesta. Mas existe uma parcela, que não é pequena, que sob uma falsa justificativa moral, é conhecida como a tropa que resolve problema, ainda que ilegalmente ou de qualquer maneira (…) ninguém vai sair com uma mala de dinheiro, mas o camarada pode sair promovido a general ou receber uma missão no exterior como prêmio”.

Mourão teria ameaçado o coronel da reserva que prestou declarações ao El Pais, ameaçado de prisão, em uma oportunidade em que foi oferecido por Rubens a possibilidade de ajudar Mourão em uma nova tentativa de aprovar o simulador.

Na matéria do El Pais ainda é possível registrar que “todos os demais questionamentos da reportagem feitos ao Exército sobre atrasos, o processo de licitação, custos com viagens, cláusulas do contrato que a Tecnobit [fornecedor do simulador] não teria cumprido e a possível relação de executivos da empresa com oficiais do Exército antes mesmo de aberta a licitação não foram respondidos ou foram negados”.

A verdade dos fatos é o que Exército, especialmente quando esteve no poder, durante o regime militar, é tão corrupto quanto as instituições que visa atacar, golpear. Nesse sentido, a chapa Bolsonaro/Mourão é a chapa da corrupção mais bem acabada, aquela que quase ninguém consegue ter acesso, especialmente por vir das Forças Armadas.