Miscigenação e genocídio

No último dia 20 de novembro, Dia de Luta do Povo Negro, a marcha tradicional do movimento negro se deu na avenida Paulista, em São Paulo. Várias faixas foram levantadas contra o massacre do povo negro, contra o racismo do regime capitalista, contra a opressão do povo negro em geral, mas uma faixa levantou polêmica. É uma faixa que dizia: “miscigenação também é genocídio”.

A direita prontamente atacou essa palavra de ordem, dizendo que se trata de racismo inverso e o movimento negro estava utilizando a “ciência” racista do século anterior, que dizia haver diferença entre as raças negra e branca. É um cinismo da direita, que se esforçou em perseguir, torturar, prender e assassinar os negros ao longo dos tempos, e ainda mais agora, em tempo de golpe de Estado. Assim, se existe alguém contra a miscigenação, esse alguém é a direita, a burguesia branca.

Do ponto de vista da esquerda é preciso destacar dois problemas. O primeiro é que o movimento negro tem o direito de reivindicar qualquer coisa, especialmente diante de séculos de opressão. Houve tempos em que o movimento negro reivindicava que o negro deveria voltar para a África (Marcus Garvey), ou que deveria organizar estados nacionais compostos apenas por negros, etc. O próprio Garvey afirmava que o branco era a representação do demônio na terra.

A crítica que se coloca é que no Brasil a miscigenação é uma realidade posta, já foi feita e está sendo feita. E o problema, finalmente, não é se o negro se une ao branco para clarear sua pele (o que é o resultado da situação objetiva do negro na sociedade), mas o peso social e político do negro dentro da sociedade. Enquanto o negro não impor pela força sua vontade e suas reivindicações, as relações sociais, quaisquer que sejam elas, tendem a deixar o negro na sola da sociedade.

O problema, assim, não tem a ver com a miscigenação em si, mas com a força e organização do negro dentro da sociedade. Tem a ver, em último caso, com a luta pela tomada do poder político, medida capaz de elevar o negro a um patamar superior dentro do regime. E é justamente essa discussão que não está sendo feita. A discussão sobre a organização independente do negro, dos trabalhadores, pela tomada do poder político do regime. É esse problema que precisa ser debatido e colocado em prática às últimas consequências, e que tem como primeiro passo a luta contra o golpe de Estado, dado justamente pela direita racista.