Forum Social Mundial 2018: do jeito que a direita gosta, sem partido

Estive na última semana no Fórum Social Mundial (FSM) realizado entre os dias 13 a 17 de março na cidade de Salvador. Estava com outros companheiros do PCO para fazermos campanha contra o golpe e contra a prisão de Lula e uma palestra sobre o golpe e a intervenção militar e a venda de materiais políticos para financiar a atividade.

Não vou entrar aqui no mérito do FSM como atividade política, já que o companheiro Antônio Carlos em sua coluna aqui no Diário Causa Operária já fez este debate. Vou aqui relatar algo específico que chama atenção do caráter do FSM. Depois de 4 dias de atividades, no último dia, no sábado dia 17, estava eu em nossa banca de materiais quando um representante da organização do FSM veio me informar que nós teríamos que retirar nossa bandeira, pois a organização geral do evento tinha definido em sua carta de princípios que não era permitida a presença de partidos políticos. Disse que nós poderíamos estar lá, mas sem expor bandeiras. Obviamente que eu e outro companheiro que estávamos na banca nos recusamos a retirar a bandeira.

Alguns minutos depois veio outro representante da organização e repetiu os mesmos argumentos dizendo que por princípio o FSM não permitia que partidos políticos se manifestassem no evento como partidos. Novamente nos recusamos a seguir esse descalabro e o representante nos ameaçou dizendo que se não tirássemos por bem tiraríamos por mal. Disse que iria chamar os seguranças para nos retirar.

Finalmente os seguranças não vieram e continuamos com as bandeiras até o final do evento, por volta das 18h.

Fui atrás da tal carta de princípios e de fato o FSM se diz apartidário. São 14 pontos e no ponto 8º diz : “O Fórum Social Mundial é um espaço plural e diversificado, não confessional, não governamental e não partidário, que articula de forma descentralizada, em rede, entidades e movimentos engajados em ações concretas… ” .  Até este ponto, digamos que seja compreensível.

Mas no ponto seguinte diz: “Não deverão participar do Fórum representações partidárias nem organizações militares. Poderão ser convidados a participar, em caráter pessoal, governantes e parlamentares que assumam os compromissos desta Carta.”. O texto diz que um partido não poderia estar representado no evento, ou seja, não poderia ser identificado como tal. Não poderia se manifestar como partido. Ou seja, estaria presente, mas não estaria. Ao pedir que retirássemos as bandeiras, mas permitir que permanecêssemos no local, é o mesmo que nos censurar como partidos.

A carta de princípios e as “regras” do evento são válidos no sentido que a organização não pode exigir algo que esteja acima da Constituição brasileira como a liberdade de organização partidária. Impedir que um partido se manifeste numa atividade pública é o mesmo que censurar esta organização por considerações particulares.

O fato mostra como a esquerda pequeno burguesa está completamente confusa e fora da realidade do País. Diante de um golpe de Estado contra o maior partido de esquerda da América Latina, a organização de um evento deste porte, claramente de esquerda, pratica a mesma política da direita “apartidária”. É notório que os “coxinhas” que foram para as ruas protestar contra Dilma eram contra a presença de partidos. A direita fascista de Mussolini, de Hitler eram apartidários.

Esta política é uma adaptação à política golpista e terá graves consequências à organização de toda a esquerda brasileira. É uma brecha para um ataque ainda maior da direita contra a esquerda.