Fascistas perseguem a cultura: “recebi mais de cem ameaças de morte”, diz curador da exposição Queermuseu

Gaudêncio Fidelis, curador do Queermuseu, recentemente revelou que recebeu mais de cem ameaças de morte. Todas elas foram feitas após ações do Movimento Brasil Livre (MBL) visando transformar a exposição do Queermuseu em algo moralmente inaceitável, acusando a exposição e seu curador de fazer exaltação até mesmo à pedofilia. Em tempos de crise, em particular uma crise social, política e econômica pela qual atravessa o país, que as pessoas sejam tentadas a dirigir suas frustrações, sua raiva, sua insatisfação e sua ignorância sobre as causas da crise, para um bode expiatório.

No entanto, estamos diante de algo um pouco mais grave, pois é principalmente a classe média que levanta a bandeira da moralidade vazia, revelando sua idiotia moral, contra a cultura. Contra a cultura porque foi o campo da cultura que primeiramente e de forma mais efetiva reagiu ao golpe, com ações concretas, obrigando o desgoverno golpista a retroceder e desacelerar o desmonte das políticas culturais. Porque artistas têm visibilidade e ao levantarem-se contra governos, contra valores, contra preceitos, contra costumes, obrigam o conjunto da sociedade a considerar suas criticas, outras visões sobre as questões.

Não é por outro motivo que o fascismo, embora tenha se estabelecido de formas distintas em cada lugar, manteve a estratégia de controlar a universidade e de vincular-se a uma estética e moral específica, como é o caso do fascismo português vinculado ao Catolicismo. O controle sobre a expressão artística visava entre outras coisas evitar que, por meio do campo cultural e intelectual, brotassem críticas suficientemente fortes e coerentes para por em dúvida o fascismo.

Movimentos como o MBL, o VemPraRua, Revoltados OnLine, e outros com pautas mais específicas como o ‘combate à corrupção’, agregam desde sempre elementos morais para convocar a população, ao mesmo tempo em que criminalizam e demonizam a política, e a cultura é um alvo preferencial. Todo o barulho feito em torno da famigerada “Lei Rouanet”, à qual os fascistas e fascistoides de plantão vinculam um abuso no uso de recursos públicos para a produção de obras ‘de esquerda’, ‘comunistas’, ‘imorais’, ‘inuteis’, ou por meio da qual os agentes culturais apenas enriqueceriam, é um exemplo de como deturpam a verdade, mentem, usando elementos morais para cooptar parte da sociedade para amplificar preconceitos, fixar classificações simplistas e discriminatórias em relação a grupos e pessoas, de forma a que, no ódio, sintam-se parte de alguma coisa.

O exemplo de perseguição ao Queermuseu e a seu curador é apenas um exemplo do mau que os fascistas representam e do porquê devemos combatê-los imediata e rigorosamente. Não se pode ter tolerância com a intolerância. Não se convence um fascista de sua idiotia moral, de seu racismo, da sua postura intolerante e odiosa, não há diálogo possível. Fascismo se combate e pronto.