Exposição do “Queermuseu” reage à censura do MBL e será recriada no Rio

A exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira – cancelada em setembro de 2017, no espaço Santander cultural de Porto Alegre, volta a cena das polêmicas exposições culturais.

Grupos conservadores e religiosos acusaram a mostra de incentivar a pedofilia e a zoofilia, quando ocorreu um ataque da direita que culminou no fechamento da exposição em Porto Alegre (RS).

Quase um ano depois, a Queermuseu ganhará nova edição a partir de sábado (18) na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em temporada até 16 de setembro de 2018.

Se a mostra original havia sido viabilizada com R$ 800 mil por meio da Lei Rouanet, o projeto em solo carioca é fruto de um financiamento coletivo recorde no Brasil que arrecadou mais de R$ 1 milhão. Também colaboraram para a campanha um show beneficente de Caetano Veloso, em março, e um leilão de obras doadas por artistas.

O valor financiará não apenas a exposição, mas também o Fórum Queermuseu (com debates sobre diversidade, arte, censura e fake news) e o Núcleo de Ação Educativa, os dois últimos coordenados por Ulisses Carrilho, curador da EAV.

O local passará por reforma, as câmeras instaladas servirão para reforçar a segurança durante o evento, que tem um espaço reduzido em relação ao anterior em Porto Alegre.

Serão 214 obras de 82 artistas nacionais e internacionais de meados do século 20 até a atualidade, com nomes do calibre de Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Guignard, Leonilson, Lygia Clark e Yuri Firmeza. Trabalhos que foram alvos de polêmica, como Cena de Interior II (1994), de Adriana Varejão, e Cruzando Jesus Cristo com Deusa Shiva (1996), de Fernando Baril, estão confirmados na remontagem.

Para os organizadores, a remontagem é uma forma de fazer justiça à exposição Queermuseu que não ocorreu em Porto Alegre. Naquela ocasião um grupo de conservadores direitista ligados ao MBL conseguiu barrar a mostra, porém o Ministério Público do Rio Grande do Sul avaliou não haver crime de pedofilia na mostra.

O seguinte aviso será afixado na entrada: “esta exposição contém obras de arte com nudez, conteúdo sexual e uso de simbologia religiosa, que poderão ofender os valores morais de alguns. Recomendamos levar isso em consideração antes de entrar no espaço expositivo”.

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage informa que não impedirá o acesso de crianças à exposição. Por recomendação do Ministério Público do Rio, o texto na entrada complementará que o conteúdo “não é recomendado para menores de 14 anos desacompanhados de seus pais ou responsáveis”.

A exposição reage a censura dos reacionários ligados ao MBL, e será aberta no Rio de Janeiro. Ela deve ser defendida diante dos ataques da direita.