Escondendo os crimes da ditadura: General diz que documentos são para historiadores

Após sua participação numa cerimônia no Palácio do Planalto, o Ministro da Defesa, General Joaquim Luna e Silva, declarou que a análise do conteúdo dos documentos da CIA é atividade para historiadores e caso haja demanda, para a Justiça, uma vez que a Lei da Anistia deu o assunto por encerrado. Os documentos a que se referiu o ministro revelam que o ex-presidente, General Ernesto Geisel, pessoalmente ordenava assassinatos de opositores do regime militar.

A declaração do ministro, dada antes de qualquer pronunciamento do presidente ilegítimo, é reveladora quanto a quem está realmente dando as cartas no governo. Ao adiantar a posição do governo diante de um assunto de tal gravidade o ministro extrapolou as suas funções. Por outro lado, a divulgação da existência desses documentos teve o efeito de reavivar a memória já um tanto esmaecida dos crimes cometidos durante a ditadura militar. Desde o momento em que o movimento golpista atual se pôs em marcha surgiu não se sabe de onde clamores por uma intervenção militar na política brasileira. Com o passar do tempo a esse clamor juntou-se uma tentativa de revisionismo histórico tosco que procurava apresentar a ditadura militar instaurada com o golpe de 64 como “honesta” contrastando com o “corrupto” governo do Partido dos Trabalhadores.

Consigo a consumação do golpe de 2016 trouxe a presença cada vez mais ostensiva e audaciosa de militares interferindo aberta e desembaraçadamente na política o que atingiu o nível de escândalo quando um general publicamente ameaçou o Supremo Tribunal Federal. Ao mesmo tempo vemos a presença de tropas do exército fazendo o papel de polícia ou realizando “exercícios” em centros urbanos o que não deixa qualquer dúvida de que agora está em andamento um movimento em direção ao protagonismo do exército na política brasileira. Tendo em vista que não há coincidências na política há que se perguntar, e muita gente deve estar se perguntando, o por que da notícia agora deste documento que já tinha sido tornado público faz algum tempo.

A anistia concedida pelos militares a si próprios e aceita após a “transição democrática” colocou uma pedra em cima dos crimes cometidos pela ditadura militar e agora eles próprios removeram a pedra. “Ninguém aguenta mais! Abaixo os generais!” foi uma das palavras de ordem gritadas nas ruas pelos estudantes já no final da ditadura militar. A demonstração pela classe trabalhadora da sua determinação em parar o avanço contínuo do golpe evitará que daqui a décadas estudantes estejam gritando a mesma palavra de ordem que seus congêneres gritaram na década de 80.