Entrevista com Bolsonaro: Globo alega arrependimento por apoio ao golpe de 1964, mas apoiou o golpe de 2016

Da redação – Jair Bolsonaro defendeu abertamente um novo golpe militar no Brasil em entrevista ao Jornal Nacional da Rede Globo nessa terça-feira (28). Para tal, citou novamente o apoio da própria emissora ao golpe de 64, obrigando William Bonner a fazer as vezes de Miriam Leitão e citar o editorial que Roberto Marinho escreveu em 2013, quase 60 anos depois, se desculpando pelo apoio à ditadura.

“Eu vou repetir aqui: ‘Participamos da revolução democrática de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, distúrbios sociais, greves e corrupção generalizada’. Repito a pergunta aqui: Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata?,” disse Bolsonaro quando questionado sobre o real teor do “nós temos que impor uma solução” citada pelo general Hamilton Mourão, no contexto da crise econômica e política brasileira.

A pergunta sobre a intervenção militar, deixada estrategicamente para o final, foi a seguinte:  “Eu vou convidar o senhor para a próxima pergunta, que também é importante. A gente vai falar de composição política, de aliança, do seu vice. O seu candidato a vice, o general Hamilton Mourão, ao falar sobre crise política brasileira, uma crise que tem se estendido já há um bom tempo, ele falou para um grupo de militares, no ano passado, ele disse o seguinte, eu vou ler aqui a frase dele: ‘Os poderes terão que buscar solução. Se não conseguirem, chegará a hora que nós teremos que impor uma solução’. Hoje, a propósito até, o seu vice, ele voltou a esse assunto, ele disse que isso aí seria só no caso de haver uma situação de caos. Candidato, que solução seria essa que os militares teriam que impor ao Brasil? Impor. Uma democracia.” disse Bonner.

Diante da resposta de Bolsonaro, Bonner teve que sair em defesa da rede de televisão associada ao golpe de 2016, desculpando-se demagogicamente pelo apoio ao golpe de 64:  “O candidato Jair Bolsonaro disse há pouco que Roberto Marinho, identificado com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, apoiou editorialmente o que chamava, então, de revolução de 1964. É fato. Não somente O Globo, mas todos os grandes jornais da época. O candidato Bolsonaro esqueceu-se, porém, de dizer que, em 30 de agosto de 2013, O Globo publicou editorial em que reconheceu que o apoio editorial ao golpe de 1964 foi um erro. Nele, o jornal diz não ter dúvidas de que o apoio pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país. E finaliza com essas palavras: ‘À luz da história, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.'”

As palavras de um simples editorial não apagam as consequências do golpe de 64. Tampouco do golpe de 2016, que a Globo também apoiou e do qual fez parte. A polarização política à esquerda da população, obrigou a burguesia a alimentar o fascismo brasileiro. Ela agora está querendo escondê-lo, mas é certo que, caso necessário, não hesitará em apoiar um novo golpe militar no Brasil. Por isso, é preciso ampliar a mobilização popular contra o golpe e contra o seu aprofundamento em uma intervenção militar aberta. É preciso sair às ruas para lutar pela liberdade de Lula e por Lula Presidente.