Depois da intervenção militar no Rio, a burguesia se mostra cautelosa

Logo após o golpe militar no Rio de Janeiro, levado a efeito via intervenção federal naquele estado, a imprensa burguesa lança editoriais ora restringindo o cunho político da intervenção, limitando-a a uma ação de cunho eleitoreiro de Temer, que estaria tentando demonstrar sua capacidade de ação no campo da segurança pública, ora defendendo que não havia razão objetiva para a intervenção, ou ainda creditando toda a responsabilidade das eventuais consequências deste ato a Temer, que sequer teria consultado o Conselho da República para tomar a sua decisão.

O Estadão, por exemplo, reforça a ideia de que a responsabilidade sobre as perigosas consequências que podem se seguir é toda de Temer, ao dar ênfase ao fato de que o general Braga Netto responde diretamente ao presidente golpista, sem precisar passar pelo general Eduardo Villas Boas, o que reforça a ideia de que a intervenção no Rio seria uma atitude isolada do presidente golpista, e, por isso, seria ele pessoalmente responsável por todos os desdobramentos da operação.

Mas por trás destas críticas aparentes, fica evidente o receio da burguesia de que a pressão exercida sobre a população possa levar o País a uma situação explosiva, em que ela perca totalmente o controle do cenário político nacional.

É evidente que a burguesia vai mesmo seguindo a estratégia das “aproximações sucessivas” que alternam momentos onde prevalecem ações de força e restrição de direitos, com etapas de consolidação, onde aparentemente “pisam no freio” do golpe. Uma estratégia para tentarem ir acostumando a população aos poucos ao arbítrio e diminuírem a possibilidade de uma explosão popular, testando a reação do povo antes de se decidirem avançar mais, com uma intervenção generalizada no país.

Por outro lado, estes textos sugerem que no caso de a situação começar a sair do controle dos golpistas, a burguesia, principalmente a mais ligada ao imperialismo, já está preparando uma “válvula de escape”, ou seja, colocar toda a culpa em Temer e usar este mesmo discurso para substituí-lo no poder.