Concretista contra o golpe: Augusto de Campos posta poemas inéditos no Instagram

Augusto Campos, um dos fundadores do concretismo no Brasil (junto com o irmão Haroldo Campos e Décio Pignatari) está postando poemas no Instagram, inclusive poemas inéditos. Precursor da “poesia visual”, a escolha do Instagram parece mais que adequada.

Seu primeiro livro de poemas é de 1951: O Rei Menos o Reino. No ano seguinte, junto com o irmão e Pignatari, lança a revista literária Noigandres, mesmo nome do grupo que dá inicio ao movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil. A maioria dos seus poemas foi publicada em Viva Vaia, de 1979, Despoesia, de 1994 e em Não, de 2003. As obras Poemóbiles, de 1974, e Caixa Preta, de 1975, são coleções de poemas-objetos, realizado em colaboração com Julio Plaza.

Sua poesia é marcada pela relação entre texto e imagem, motivo pelo qual o autor sempre procurou experimentar novos suportes para a poesia, desde objetos tridimensionais a projeções holográficas. Parece bastante apropriado, num Brasil golpeado, em que o estado de exceção avança aceleradamente, em que a censura apresenta-se firme e forte, travestida de argumentos morais e tons fascistas, que o autor de Greve (1962) e  tradutor de poemas como Hino ao Juiz, de Maiakóvski, sinta-se convidado a manifestar-se.

Em 2016, quando recebeu Ordem do Mérito Cultural, em Brasília, presente a ainda presidenta Dilma Rousseff, Augusto de Campos não hesitou destoar do tom de festividade e denunciar o golpe em andamento. Naquela ocasião, afirmou: “São raras as oportunidades que os poetas têm de falar, mas, na verdade, eu, que não gosto de homenagens, a aceitei, desta feita, acima de tudo para dar o meu recado contra os que já chamei de “impeachmaníacos””.

Em março deste ano, publicou no Instagram, com a chamada ‘Contrapoema – ABAPORAMA ai que saudade eu tenho de Brasília (democrática)“, o seguinte:

A luta contra o golpe também se faz com poesia, a situação concreta exige, provoca, convoca. A ninguém é dado o direito de não reagir, de não resistir.