Armadilhas do “plano B”: Ciro troca Rui Costa pelo DEM

O regime golpista instalado em 2016 com a deposição do governo eleito pelo voto popular, mergulhou o Brasil e a sociedade na maior crise político-institucional da história recente do país. A quase totalidade do conjunto das instituições se viram envolvidas na conspiração golpista, articulada, financiada, coordenada e executada pelo conservadorismo-burguês-direitista e reacionário, em estreita aliança e colaboração com o imperialismo.

O conluio engendrado entre a direita nacional e o imperialismo permitiu a deposição (fraudulenta e ilegal) do governo, mas de forma alguma consolidou e estabilizou o golpe. Muito ao contrário, a empreitada golpista abriu no país uma nova etapa política, marcada pela mais profunda crise e instabilidade do regime político dominado pelos golpistas.

Um dos aspectos mais evidentes e dramáticos da crise – senão o mais evidente – se manifesta na mais completa e total incapacidade da burguesia e do imperialismo em legitimar o golpe através dos mecanismos institucionais legais do regime (completamente pulverizado e em frangalhos), que permita dar continuidade às draconianas medidas de ataques à população, à soberania e à economia nacional em seu conjunto.

Todas as candidaturas identificadas com o projeto golpista vêm sofrendo uma profunda rejeição por parte do conjunto da população, em particular das camadas mais pauperizadas dos trabalhadores, que é o contingente mais duramente atacado pelas medidas dos golpistas.

Por outro lado, na outra ponta da crise, está o fator de maior crise e instabilidade do regime, expresso na perseguição do judiciário golpista ao ex-presidente Lula, líder isolado em todas as pesquisas realizadas por todos os institutos –  incluindo aí aqueles diretamente ligados à burguesia, à imprensa golpista  e ao imperialismo. O regime golpista mantém encarcerado há mais de 100 (cem) dias a liderança mais expressiva do movimento operário e popular, numa tentativa clara de desmoraliza-lo e alijá-lo do processo eleitoral.

Com a aproximação do pleito eleitoral e a necessidade da definição das candidaturas, várias foram as vozes que se levantaram dentro do PT para se manifestarem sobre o posicionamento do partido acerca de qual seria a alternativa na hipótese da impugnação – por parte da justiça eleitoral – do registro da candidatura do ex-presidente. Muito se especulou sobre a hipótese de um “Plano B”, defendido por setores direitistas do partido, liderados pelos governadores, tendo à frente o baiano Rui Costa e o cearense Camilo Santana.

Rui Costa e Camilo Santana, junto a outros figurões do PT (Humberto Costa, Tarso Genro etc.) sempre foram partidários da tese de “virar a página” do golpe, o que significa, objetivamente, legitimar todo o edifício erguido pelos golpistas. No plano eleitoral, esses mesmos “figurões” se colocaram ao lado das alternativas “viáveis” (leia-se Ciro Gomes-PDT, ou outro nome do partido em substituição ao ex-presidente Lula), como solução “possível” diante do impasse ao nome que representa a luta das massas contra os golpistas, Luis Inácio Lula da Silva.

O flerte com a ideia de apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PDT) se arrastou por vários vários meses, até o momento em que o camaleão político com discurso pretensamente de “esquerda” abriu o jogo e se aproximou daqueles com quem, na verdade, mais se identifica, os golpistas direitistas do chamado “Centrão” e do DEM, herdeiros da ditadura (PDS). Certamente Ciro se sentirá muito a vontade ao aproximar-se dos seus amigos do “Democratas” (originalmente PDS e depois PFL). Foi por esse caminho, inclusive, que o funcionário do senhor Benjamin Steinbruck, vice presidente da Fiesp e figura de primeiro plano do golpe, se lançou na vida política. O DNA de Ciro Gomes traz, portanto, a marca indelével da direita e do golpismo.

Essa “guinada” direitista do político cearense parece ter desapontado o governador baiano Rui Costa – entusiasta defensor do apoio à candidatura de Ciro Gomes -, além, obviamente, dos outros não menos entusiastas partidários do abandono da candidatura oficial do partido (Lula) em prol do “Plano B”. O governador baiano, diante dos “novos planos” de Ciro Gomes, declarou, em entrevista, diante das negociações de Ciro com o DEM e o “Centrão”…”É  evidente que afasta. Até porque toda concordância nossa até aqui com o arcabouço de ideias que ele colocou, na medida em que tenha que recompor suas ideias para fazer esses acordos, é evidente que afasta”. “Não é possível ter agenda que envolva, eu diria, propostas tão diferentes”. Em seguida, Costa reafirmou que o “PT tem apenas um nome à Presidência: Lula” (Portal 247, 19/07).

O fato é que toda essa deletéria movimentação dos governadores “ciristas” causou e vem causando um enorme estrago e retrocesso na luta contra os golpistas. Lula está encarcerado. O ex-presidente é prisioneiro politico dos golpistas e o momento exige que toda a energia do partido e do conjunto da militância (incluindo aí todo o enorme aparato político, logístico e financeiro de que o PT dispõe) estejam a serviço de um só e único objetivo: Libertar o companheiro Lula da masmorra de Curitiba; das  mãos dos juízes e desembargadores golpistas, das mãos dos agentes corrompidos do Estado; dos ministros reacionários e direitistas do STF; das mãos sujas de sangue da Polícia Federal; das garras do imperialismo.

Esta é a tarefa que está colocada para o ativismo combativo, de luta, dos trabalhadores, da juventude, do operariado, dos camponeses, dos desempregados, das mulheres e do conjunto dos oprimidos pelo regime de fome e miséria dos golpistas. Nenhuma outra candidatura pode expressar o desejo da população explorada do campo e da cidade em derrotar o golpe, a burguesia e o imperialismo.

A aproximação com a direita e seus representantes eleitorais travestidos de “progressistas” não irá abrir nenhuma perspectiva no sentido da derrota do golpe. Ao contrário, somente irá trazer ainda mais confusão e desorganização nas fileiras do povo trabalhador, que mais do que em qualquer outro momento necessita de uma política e de uma orientação clara para levar adiante a luta contra os golpistas. É Lula ou nada!