Apoiador de Ciro diz que DEM, herdeiro do partido da ditadura: não é de direita

Segundo o filósofo Mangabeira Unger, o DEM (Democratas) não seria um partido de “direita ou centro-direita. Eles são o partido dos empreendedores regionais. Têm raízes nessa estrutura produtiva descentralizada do País”. A afirmativa ocorre num contexto uma aproximação aberta da direita por parte de seu aliado e candidato à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT-CE).

O professor da Harvard Law School Roberto Mangabeira Unger foi um dos criadores do PMDB, tendo se associado a Ciro Gomes a partir de meados da década de 1990. Desde então, ambos têm feito constantes dobradinhas políticas com o coronel do Ceará, inclusive na sua presença como Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Lula. Por residir nos Estados Unidos, Unger é uma ponte natural entre a direita e a plataforma de governo de Ciro, e sua declaração avança nesse sentido.

De fato, desde o início de maio, a candidatura do pedetista tem se aproximado abertamente do DEM, do PP e do PR. Como se sabe, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) era o partido oficial da ditadura militar e imperialista até 1980, quando se tornou o Partido Democrático Social (PDS). Em 1984, uma corrente à direita do Partido liderada pelos ex-ministros Aureliano Chaves e Marco Maciel criaria a dissidência que resultaria na criação Partido da Frente Liberal (PFL) no ano seguinte – nome que manteve até 2007, quando tomou o nome de Democratas (DEM). Já o núcleo mais fisiológico do PDS (Maluf e companhia) manteve-se no partido, que simplesmente adotou a alcunha dúbia de Partido Progressista (PP) a partir de 1993.

Liderado sobretudo por Rodrigo Maia, o DEM constitui o chamado núcleo duro do golpe – aquele que tem se alinhado mais resolutamente aos interesses estrangeiros e que tem defendido intransigentemente todos os ataques à classe trabalhadora – todas as privatizações, o novo regime fiscal, a reforma da previdência, a destruição dos direitos trabalhistas. Para o líder do DEM e presidente da Câmara dos Deputados, a “Justiça do Trabalho não deveria nem existir”.

O que Ciro Gomes faz com seu discurso e suas manobras é a velha sopa de pedra: coloca-se para o eleitorado como um candidato de esquerda para subtrair votos ao PT e para aproveitar a polarização política resultante do descontentamento da população com as políticas golpistas. Para reforçar essa intenção, procura associar-se aos grupos oportunistas de ocasião: PCdoB, PSB etc. Politicamente – tanto em termos de votos quanto em termos parlamentares – esses partidos são incomparavelmente menores que as forças golpistas que tradicionalmente apoiam Ciro – como o industrial Benjamin Steinbruch, dono da CSN e vice-presidente da Fiesp. Esses setores da burguesia são apoiadores antigos de Ciro desde os tempos de PDS, onde iniciou sua carreira sob os auspícios de Tasso Jereissati (PSDB-CE).

A declaração de Mangabeira Unger parece colocar com desfaçatez o ingrediente principal dessa receita na candidatura de Ciro Gomes: o DEM – o núcleo duro do golpe. Talvez repetindo que o PSDB é de centro – como Temer tem feito – e que o DEM não é de direita, algum desavisado chegue até mesmo a acreditar. Futuramente, basta retirar a pedra da esquerda do caldeirão, ou deixá-la bem ao fundo inerte. O prato servido nas eleições e num eventual governo de Ciro será golpista.